sábado, 11 de agosto de 2012

SUMA TEOLÓGICA - TOMÁS DE AQUINO - Questão 76: As causas do pecado em especial


SUMA TEOLÓGICA - TOMÁS DE AQUINO

Questão 76: As causas do pecado em especial
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Artigo 2 - A ignorância é um pecado?

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A ignorância difere da nesciência em que significa a simples negação da ciência. Por isso, pode-se dizer daquele a quem falta a ciência de alguma coisa, que não a conhece. Desse modo Dionísio afirma haver nesciência nos anjos. A ignorância implica uma privação de ciência, a saber, quando a alguém falta a ciência daquelas coisas que naturalmente deveria saber. Entre essas coisas há as que se é obrigado a saber, isto é, aquelas sem o conhecimento das quais não se pode fazer corretamente o que é devido. Assim, todos são obrigados a saber, em geral, as verdades da fé e os preceitos universais da lei. E cada um em particular, o que diz respeito ao seu estado e sua função. Ao contrário, há coisas que não se é obrigado a saber, se bem que seja natural sabe-las, por exemplo, os teoremas da geometria, e exceto em certos casos, os acontecimentos contingentes.

Evidentemente todo aquele que negligencia ter ou fazer o que é obrigado ter ou fazer, peca por omissão. Portanto, por causa de uma negligência, a ignorância das coisas que se devia saber é um pecado. Mas não se pode imputar a alguém como negligência o não saber o que não se pode saber. Por isso, essa ignorância é chamada invencível, porque nenhum estudo a pode vencer. Como tal ignorância não é voluntária, porque não está em nosso poder rechaçá-la, por isso ela não é um pecado. Por aí se vê que a ignorância invencível nunca é um pecado. Mas a ignorância vencível é, se ela se refere ao que se deve saber. Mas, ela não o é, se se refere ao que não se é obrigado a saber.

Artigo 3 – A ignorância escusa totalmente o pecado?

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Pode acontecer de dois modos que a ignorância não escuse totalmente o pecado. [...] quando um indivíduo fere alguém, se ele sabe que fere um homem é suficiente para que faça um pecado. [...] Segundo, por parte da própria ignorância, o mesmo pode acontecer, porque a ignorância é voluntária, seja diretamente, quando alguém procura de propósito não saber certas coisas para pecar mais livremente; seja indiretamente, quando se negligencia, por causa de seu trabalho ou se duas outras ocupações, em aprender o que impediria pecar. Uma tal negligência, com efeito, torna a própria ignorância voluntária e um pecado, uma vez que se refere ao que se deve ou que se pode saber. [...]

Artigo 4 – A ignorância diminui o pecado?

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Às vezes acontece que tal ignorância é voluntária diretamente e por si, como quando alguém de propósito ignora algo para pecar mais livremente. Tal ignorância faz crescer, parece, o voluntário e o pecado. Se alguém, com efeito, quer, para dar-se a liberdade de pecar, sofrer o dano da ignorância, isso provém da intensidade da vontade de pecar.


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