TOURAINE, Alain. Igualdade e diversidade: o sujeito democrático. Tradução: Modesto Florenzano. Bauru: EDUSC, 1998.
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Capítulo 6 – A Política, acima e
no centro do social
[...]
Dado que freqüentemente me oponho
e muito vivamente aos que na França se auto-denominam republicanos faço questão
de declarar meu acordo com eles sobre um ponto fundamental: a democracia não
está assegurada porque a classe operária, o povo ou os bons cidadãos estão no
poder; em todos esses casos, o sistema político corre o risco de perder a
possibilidade de mudar a origem e os objetivos sociais dos que estão no poder.
O que significa a morte da democracia. Não se trata simplesmente de lembrar a
necessidade de defender a lei e os procedimentos democráticos, mas, num plano
mais profundo, de sustentar um princípio universalista, ou seja, não social,
cujo campo de ação é
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a esfera política, que deve,
portanto, ter a capacidade de agir livremente sobre o sistema social. Se
lembrarmos que foi a filosofia política liberal, de Hobbes a Rousseau, que
afirmou esta proeminência do político, declaro-me liberal, esperando que este
termo não seja reduzido ao laisser-faire
que beneficia apenas os mais poderosos. Quando se fala de liberdade, de
igualdade ou de justiça, faz-se apelo a um princípio não social, superior às
relações sociais que são sempre não igualitárias, para organizar a ordem
social. Fora deste princípio, pode existir tolerância mas não liberdade;
pode-se reduzir as diferenças sociais, mas não se pode assegurar a igualdade.
[...]
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[...] A democracia torna-se
social [...] Coloca-se, pois, no plano dos atores sociais e não acima deles e
procura estabelecer a justiça, ou seja, assegurar, antes de mais nada, o acesso
dos dominados à ação, à influência e ao poder político.
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